Análise técnica realizada pela consultoria Envol, a pedido da Frente Nacional dos Consumidores de Energia (FNCE), indica que em áreas remotas da Amazônia famílias chegam a gastar até R$ 900 por mês para ter eletricidade com geradores a diesel. Experiências identificadas no estudo Descarbonização dos Sistemas Isolados na Amazônia mostram que sistemas solares independentes e de pequena escala, mais eficientes e com menores custos operacionais, podem ser uma solução viável para a descarbonização da energia na região amazônica. Projeção mostra que, ao longo de 25 anos, o custo médio da geração elétrica com painéis solares associados a baterias pode ser 44% mais baixo que o uso de geradores a diesel.
Embora exija um aporte inicial mais elevado, a energia solar torna-se economicamente mais vantajosa por dispensar gastos recorrentes com combustível e oferecer retorno contínuo após a instalação. O uso combinado de baterias permite que os consumidores tenham energia elétrica disponível 24 horas por dia.
Enquanto a matriz do Sistema Interligado Nacional (SIN) é 87% renovável, uma das mais limpas do mundo, nas redes de distribuição desconectadas do SIN, os chamados Sistemas Isolados (SISOL), instalados na Amazônia Legal, 89% da energia elétrica são gerados à base de combustíveis fósseis. Energia corresponde a 18,3% das emissões globais do Brasil e apenas 3,8% do CO2eq emitidos no bioma Amazônia. Embora relativamente pequena, a emissão de gases de efeito estufa nos SISOL é resultado de um modelo caro, ineficiente, poluente e que, ao mesmo tempo em que gera desigualdade, já é passível de substituição por novas tecnologias e fontes renováveis, alerta a FNCE.
“A descarbonização dos sistemas isolados não é apenas uma questão ambiental. Realizar a transição das fontes fósseis para as renováveis na geração elétrica na Amazônia significa promover inclusão e desenvolvimento social, com redução na emissão de gases de efeito estufa, diminuição de custos e aumento da qualidade do acesso a esse serviço essencial”, afirma o presidente da FNCE, Luiz Eduardo Barata. Com acesso à eletricidade limpa, estável e mais barata, famílias que vivem na região poderão conquistar mais conforto, dignidade, segurança e oportunidades.
Números da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que a participação do diesel na geração elétrica no SISOL já vem diminuindo nos últimos anos. Em 2018, o combustível respondia por 97% da eletricidade gerada na região, enquanto em 2024 a proporção foi de 67%. A geração de energia dos SISOL também é significativamente mais cara que a geração do SIN (“Mix ACR”) devido à predominância de fontes fósseis. Dentre as fontes fósseis usadas no SISOL, destacam-se o óleo diesel, com custo de R$ 2000/MWh e o gás natural a R$ 944/MWh, enquanto o custo médio da geração elétrica no SIN é de R$ 238/MWh. Outras fontes utilizadas nos sistemas isolados, como óleos vegetais, resíduos florestais, entre outros, ainda que sejam renováveis, têm custos muitos elevados.
Para bancar essa geração elétrica tão cara, o Decreto 7.246/2010 determinou que a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), alocada na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), reembolse esse custo. Atualmente, a CCC é uma das parcelas de maior relevância dentro da CDE e equivale a quase 25% de todo esse encargo, que é cobrado na conta de luz.